23 de outubro de 2010

Belo texto de Jayme Sodré n' Atarde de ontem. O Dois em Um foi citado.


Ederaldo,

por gentileza

Jaime Sodré

“Panela velha é quem faz comida boa”, mas, já me deliciei com tudo aquilo que o grande compositor baiano Ederaldo Gentil fez, quero as mais recentes “pérolas finas”. Se preciso, faria um “abaixo-assinado”, uma “emenda popular” com milhares de assinantes.Um instante maestro Luizão, quero mais Ederaldo.

Encontrei Luizão, sobrinho de Ederaldo, precavido, o tio dera-lhe um cavaquinho intimando-o a entrar no “Clube do Samba”, Luiz guarda o cavaco e assume o rock com o “Cravo Negro” e “Penélope”. Mas não esquece o tio, Cobrei-lhe mais Ederaldo, e com o auxilio luxuoso da erudita Fernanda Monteiro formaram o “Doisemum”, grupo habitante do bom gosto, mandou-me uma excelente gravação da canção “Compadre”, do tio.

Quem é Ederaldo, capitulo máximo da historia da musica brasileira, “UM BAMBA”. Oriundo do quimbundombanba”, na lingua do povo banto, significa muito bom, excelente. “Bambambã e bamba” refere-se no Brasil a sambista virtuoso. Ederaldo nasceu a sete de setembro de 1943, no largo Dois de Julho, um dos filhos de D. Zezé e “Seu” Carlos, competente relojoeiro, oficio transmitido ao sambista. Mudou-se para o Tororó, reduto do samba e carnavalesco, do Apache, Filhos do Tororó, entre outras. O gosto pelo carnaval fora alimentado pelo pai nos bailes a fantasia. Participara da bateria da escola tomando gosto pelo samba, estimulado por “Seu” Arnaldo presidente. Daí foi para a ala dos compositores, tendo os seus sambas entoados na quadra. A vida não era fácil, arriscou o futebol na posição de meia-esquerda do Guarany, e a treinar no Vitória. A musica falava mais alto, nisso ele era competente. Vencera o concurso municipal do carnaval com a musica “Rio de Lagrimas”, ganhara por três anos. Em 1967 vence na quadra dos Filhos do Tororó com “Dois de Fevereiro” e ouvia seus sambas na boca do povo, afasta-se da escola e compõe samba-enredos para outras. Chegara a hora de tornar-se nacional, entra no espaço da MPB nos anos setenta, através das canções “Berequetê” e “Alô Madrugada” com Edil Pacheco, excelente compositor baiano, na voz de Jair Rodrigues. Aproxima-se de Alcione, Eliana Pittman, Leny Andrade o Conjunto Nosso Samba.

Em 1972 vai para São Paulo na tentativa de gravar um disco próprio e participar de programas de Tvs, sem sucesso, retorna a Bahia, acolhido pela família e amigos, reassume o oficio herdado do pai, e reaproxima-se da sua escola de Samba, faz as pazes e premia a Bahia com um sensacional samba-enredo, “In-Lê-In-Lá”, em homenagem aos cinqüenta anos de Mãe Menininha, em parceria com Anísio Felix, samba que mais tarde gravaria, abandono a produção de sambas nesta categoria.

A gravadora Chantecler, reconhecendo o seu valor, o convoca a São Paulo, gravando um compacto simples com a genial e filosófica “O Ouro e a Madeira” (O ouro afunda no mar, madeira fica por cima, ostra nasce do lodo, gerando pérolas finas) e “Triste Samba”. A primeira recebe uma outra gravação, pelo grupo Nossa Samba, acompanhante de Clara Nunes, como diria hoje “bombou”.

Sucesso nacional, nova gravação com a mesma gravadora, deste feita o seu primeiro LP, em 1975 surge o “Samba Canto Livre de Um Povo” este poderia hoje, ser editado em CD. Lança outro LP “Pequenino”, numa esmerada produção com o acompanhamento de músicos e maestros primorosos. Carreira segue consagrada, retorna a Salvador, aos seus show, alguns acompanhei na bateria. Em setenta nasce com Batatinha o show “O Samba Nasceu Na Bahia”, glorioso.

Apesar da qualidade da sua obra, fica anos sem gravar e resolve enfrentar gravando um disco independente com ajuda de amigos, chamado “Identidade”, generoso, na contra capa do disco cita todos os colaboradores.

Aos poucos, esquecido pela mídia e gravadoras, passeava pelo Pelourinho, ouvindo na voz de outros a sua música, ao tempo em que não o reconheciam. Desanimado, recolhe-se na Vila Laura. Vieram as homenagens, mais compositor maior permanece recolhido no carinho dos seus. Ederaldo, O Genio, por gentileza, o Brasil te convoca, para perfumar a sonoridade nacional.



Um comentário:

Mateus Borba disse...

Bonito mesmo, Parceiros.